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Memórias.

Você me cantava canções de ninar. O quarto era escuro, mais eu não tinha medo. Na rua havia silêncio. A casa era pequena e de madeira, aconchegante. Era cedo e o som da música saia da cozinha. O café era feito por você e era tão bom, ainda não consigo sentir cheiro de chocolate como aquele.

Passávamos a manha toda caminhando, alimentando quem nos fazia companhia. Eu costumava rir de ver todos os cachorros a tua volta, do boné normalmente sujo e da sua cabeça baixa, não sei porque era um cena engraça pra mim. Adorava ver aquilo, e de repassar a cena na minha cabeça.

Depois vinha o almoço, lembro que sempre perguntava o que eu queria comer e fazia de tudo pra mim comer bem, hoje ninguém tem essa preocupação comigo. Você sentava na sua cadeira de madeira, uns dez gatos se reunião a sua volta e roubavam toda a tua atenção, a comida desaparecia tão rapidamente do teu prato. O seu prato cheio era apena ilusão, quem comia não era você, logo percebi seu corpo magro.

A TV ficava o tempo todo ligada e você não reclamava quando trocava de canal. Hoje a TV já me incomoda, porque nenhuma companhia consegue ser igual a sua do lado dela. Conversávamos sobre tudo, contávamos piadas e planejávamos o meu futuro. Nunca me perdoei por não perguntar porque você não se encluia neles. Não importa mais, esses planos não existem mais, estão com você agora.

A gente costumava rir de segundo em segundo. As suas piadas repetidas sempre tinham graça. Me lembro de você contando-me sobre o teu passado, a infância. Seus olhos claros ficavam tristes e baixos quando falava da sua mãe. Agora eu entendo perfeitamente o que sentia quando falava de alguém que já havia partido.

O copo cheio era o que te fazia esquecer do passado e enfrentar o futuro. A noite a gente jantava muito bem, sua comida era tão boa. Depois você voltava pra a sua cadeira de madeira e ligava a TV, voltava os inúmeros animais, eles se sentiam protegido perto de você, e eu também. Eu ficava mais perto do fogão a lenha, o inverno era mais rígido por la.

Me perdoa, acho que não consigo continuar. Acho que você ficaria feliz se eu não chorasse, e por isso preciso parar. Só quero que saiba que quero ser um terço da pessoa maravilhosa que você foi. Me deu sonhos e dias tão alegres. Me perdoa por ter perdido tudo, não tenho forças pra continuar sozinha. Espero que fiquei feliz, por que naquela manha fria foi o meu sorriso que te deixei de presente, não flores como a maioria dos que estavam por lá, e onde quer que você esteja espero que esteja usando esse meu presente, rindo por mim e sendo feliz. Eu ainda quero te dar muito orgulho, só que ultimamente tenho tido algumas quedas, você sempre dize que isso era normal. Se está me vendo agora, só peço que tenha calma, porque logo nos encontraremos de novo e terei meu sorriso de volta. E eu sei que é você que limpa toda a lágrima que hoje cai.

Eu não me sinto mais protegida, não tenho mais ninguém preocupado comigo. Quem o senhor chamava de filha, apesar de não ter seus sangue, esta sempre do meu lado. Eu cuidei dela. Cuidei da vovó também, não sei como consegui mais eu cuidei. Cai tantas vezes depois que tu se foi, ainda estou lambendo algumas feridas, mais ja estou entendendo que tem que ser assim.

E por isso tudo queria gritar obrigada, pra que todos ouvissem e so você soubesse que ninguém nunca vai conseguir ser tão importante como vc foi na minha vida. Obrigada por me proteger sempre, por me guiar até a hora em que não aguentava mais. Obrigada por ter me adotado como se fosse do teu sangue, por ter amado tanto a minha mãe. E por simplesmente ter passado na minha vida. Eu posso te jurar amor eterno.

JOSE FRANCISCO.

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